sexta-feira, novembro 03, 2006

Alperce na Noruega


A Noruega é, basicamente, o país mais rico do mundo, ocupando o 1º lugar (ou perto) na maioria dos índices de desenvolvimento. Situa-se na cadeia escandinava dialogando de perto com a Suécia e a Dinamarca, tradicionais dominadores destas paragens. Está fora da União Europeia (UE) por opção referendária (mas, por exemplo, faz parte do espaço de livre circulação de pessoas - Schengen).
As pessoas são poucas e o espaço é muito. Os mais velhos falam pouco mas os menos velhos falam cada vez mais. Oslo é uma cidade pacata, onde a riqueza se pressente. “Pressentir” é, aliás, uma palavra adequada à Noruega, rica com o petróleo e o gás natural do Mar do Norte e do Árctico que começou a fluir para o gordo orçamento de estado norueguês a partir dos anos 60. Pressente-se uma organização de matriz social‑democrata, um rigoroso e discreto controlo público de uma vasta riqueza que em tantos outros sítios do mundo se tornou em ostentação, miséria, guerra e morte (alguns exemplos só em África: Nigéria, Angola, República Democrática do Congo, Libéria, Serra Leoa, Costa do Marfim, Guiné Equatorial, Sudão e Chade). Pressente-se uma angústia quase filosófica no olhar das pessoas (talvez influenciada pelo clima cinzento e oscilante entre o sol da meia noite e a claridade mínima dos Invernos), entre a austeridade confiante e o suicídio consciente. Death, Black, Trash & Other Metal, estátuas em Oslo, pinheiros e estradas intermináveis salpicadas de renas e de lapões completam uma imagem rápida do país. Tentando ser ainda mais impreciso, avanço com 18 hobbies dos noruegueses identificados ao correr da pena:
1 – Resolver os problemas dos outros depois de terem resolvido os seus. A Noruega é um dos países que mais contribui para a cooperação internacional, assumindo-se frequentemente como mediador de conflitos (exemplo: Sri Lanka e Chipre) e desenvolvendo muita investigação nesta área. O PRIO, por exemplo, é um instituto de referência internacional na área dos Estudos de Paz e Conflito.
2 - Death, Black, Trash & other Metal. Não só são norueguesas algumas das bandas de referência como também os noruegueses constituem, com grande probabilidade, o povo mais fanático por este género musical (“Podia-me traduzir esta letra dos Sepultura?” – perguntou-me candidamente um respeitável professor sexagenário).
3 – Consagrar o prémio Nobel da paz, o mais prestigiado dos prémios (Instituto Nobel em Oslo).
4 – Suicidar-se.
5 – Pescar (segunda frota piscatória da Europa e grande exportador) e produzir peixe (incluindo o bacalhau) em viveiros.
6 – Morrer em acidentes de automóvel causados por alces.
7 - Falar pouco (em diminuição e inversamente proporcional à idade).
8 – Ter casas-de-banho confortáveis com chão aquecido.
9 – Comer cabeças de ovelha (incluindo os olhos, a melhor parte, claro).
10 – Beber vinho sempre que a garrafa custe menos que 3500 coroas (aproximadamente 40€). Directamente relacionado com este hobbie está o sub-hobbie dos exageros alcoólicos em ferries.
11 – Construir e expor estátuas (com grande destaque para o Mestre Viggeland).
12 – Roubar e recuperar quadros famosos.
13 – Trekking e esqui de fundo pelo meio dos pinheiros. De referir que os praticantes de esqui de fundo são normalmente perseverantes e metódicos atletas apreciadores de jazz e música clássica. Os saltadores (ski jumpers) são normalmente aventureiros, excêntricos e, eventualmente, membros de bandas de black metal.
14 – Redistribuir o dinheiro do petróleo (têm, por exemplo, o salário mínimo mais elevado do mundo – algo à volta dos 12€/hora).
15 – Ler jornais. São o povo que mais jornais lê e contam com mais de 80 jornais diários (mais de 230 no total).
16 – Falar inglês. Quase todos o falam e grande parte do ensino superior é em inglês. A adaptação dos professores foi difícil mas tem sido bem sucedida.
17 – Bronzear-se. Férias no Sul e solários.
18 – Respirar oxigénio com sabores (aconselho o alperce).