sexta-feira, junho 13, 2014

Também o amor é tempo, assim

O tempo é uma coisa estranha (primeiro que tudo é simultaneamente objecto e instrumento de si próprio; sem tempo não é possível falar do tempo). Decidiu-se esta coisa do passado, do presente e do futuro. Sobre o passado costuma dizer-se que não devemos ficar agarrados a ele. Mas isso é obviamente impossível. Felizmente estamos “agarrados ao passado”. É do passado que retiramos as experiências, os ensaios de acção, os nossos ecossistemas (naturais, mas também sociais e culturais). É do passado que vimos. Somos passado, nesse sentido. Sem passado não somos. Mas não temos que nos preocupar: a morte libertar-nos-á das amarras do passado. E, olhando de longe o tempo, isso ocorrerá já amanhã. Sobre o futuro costuma dizer-se que “a Deus pertence”. E parece-me fazer sentido. Só Deus, possivelmente, pode lidar com a sua abertura, pluralidade e complexidade. Mas há um pequeno problema: as expectativas. Os nossos cérebros absolutamente pequenos (mas grandes em termos relativos) são autênticas máquinas de criação de expectativas. Desde as mais prosaicas e “automáticas” (por exemplo, a expectativa de que o carro da frente que faz pisca para a esquerda vire, de facto, para a esquerda), até às mais “estratégicas” (por exemplo, a expectativa de que um determinado investimento seja “rentável”). Nesta lógica, o amor é “só” a expectativa da eternidade; também o amor é tempo, assim.