sexta-feira, maio 16, 2014

Não há panda que se lhe compare

Há muito tempo que me apetece escrever sobre o carneiro Choné. Antes de mais para clarificar o sexo do animal: Choné é um carneiro, não uma ovelha. Parece-me ser de elementar justiça afirmá-lo sem rodeios (podemos discutir, no entanto, se se trata de um carneiro ou de um cordeiro). A letra da canção é andrógena e induz os nossos filhos em erro (“ele é ovelha, ele é Choné”). Depois, e à semelhança, imagino, de muitos pais e mães de crianças maravilhadas pelo ritmo e expressividade desta série de animação britânica, porque passo algumas horas da minha vida a assistir às aventuras do dito carneiro (ou cordeiro) e dos seus amigos. Uma das muitas vantagens de ter filhos pequenos é podermos apreciar este tipo de oferta sem os outros adultos pensarem que estamos a ser infantis (outras vantagens passam, por exemplo, por ter sempre uma boa justificação para recusar convites indesejados, voltar a brincar com legos, passear lentamente pela cidade e, claro, ter a experiência maior do amor por um filho, o processo de construção desse amor em relação e a permanente transformação e desafio que ele comporta). Mas voltemos ao que verdadeiramente interessa. O carneiro (ou cordeiro) Choné é o líder de um excêntrico rebanho de lanígeros que vive numa quinta com um ser humano (o fazendeiro), um cão (o Bitzer – acho que significa “rafeiro”, ou algo parecido) e uma vara de porcos mal-dispostos (assim de repente não me lembro de outras personagens). Nota-se na série a influência seminal de Wallace e Gromit (onde pela primeira vez o Choné apareceu) e o traço criativo e rigoroso da BBC. A animação e os argumentos são de uma enorme qualidade e clareza. A ausência de diálogos clarifica, nem se nota, e faz-me lembrar (não estou a exagerar) o silêncio indispensável para apreciar um concerto de música clássica. Não há, peço desculpa, panda que se lhe compare.