sexta-feira, julho 04, 2008

O Grande Jogo dos Talentos


Toda a gente fala da qualificação das pessoas, da aposta na formação, na formação ao longo da vida, etc. São palavras gastas e quase já custa ouvi-las quando proferidas, vezes sem conta, por políticos e outros responsáveis.
Mas porque é que a qualificação das pessoas é, afinal, importante para Portugal? Ou melhor, porque é que é cada vez mais importante?
A globalização não é só a competição global pelos capitais. É também a competição global pelas qualificações, o “Grande Jogo dos Talentos”.
A ascensão (quase “erupção” devido à sua velocidade e impacto) de economias de milhares de milhões de pessoas (China e Índia) e a crescente concorrência entre blocos desenvolvidos pela construção de economias baseadas no conhecimento, associada à difusão e “miscigenação” de novas tecnologias (Tecnologias da Informação e da Comunicação, biotecnologias, engenharias várias) e à transformação provocada pelo envelhecimento da população nas sociedades desenvolvidas, comporta uma valorização global do talento.
Os talentos (e o conhecimento) são cada vez mais decisivos em economias que se querem basear na inovação, na criatividade, na tecnologia e no alto valor acrescentado dos seus produtos e serviços. E potencialmente mais raros em sociedades envelhecidas. Esse talento pode ser técnico, artístico, criativo. Pode ser também a capacidade especial de aprender em permanência, de mudar, de aceitar riscos e desafios. De mobilizar excepcionalmente equipas, de gerir e de liderar.
É neste contexto que melhor se percebe o “Grande Jogo dos Talentos”, a competição acérrima e decisiva pelas qualificações e pela atracção e retenção de pessoas (e equipas) qualificadas/talentosas (nos países, nas regiões e nas empresas).
Olhando para Portugal é possível ser optimista e pessimista, como habitualmente. Podemos ser pessimistas se salientarmos o número de portugueses qualificados fixados no estrangeiro, as dificuldades em aproveitar pessoas estrangeiras qualificadas a residir em Portugal, o envelhecimento da população, as instituições avessas à mudança e que encaram o talento – e a diferença - como uma ameaça, os problemas ao nível da atracção e retenção de Investimento Directo Estrangeiro, as historicamente baixas taxas de retorno do investimento em educação/qualificação, o insucesso e o abandono escolares e os índices de pobreza e exclusão social.
Podemos ser optimistas se considerarmos a proliferação de iniciativas no âmbito da Sociedade da Informação, o potencial a explorar (em exploração?) de atracção dos portugueses qualificados espalhados pelo Mundo e de atracção de imigrantes qualificados, as “empresas-iguaria” que existem em Portugal em diversos sectores (exs: Critical Software, YDreams, Mobicom, Bial, Chipidea, Logoplaste, Martifer, Renova etc - algumas delas spin-offs das Universidades e Centros de Investigação) e o nível muito significativo de investimento público em educação/formação.
De qualquer forma, independentemente do nosso optimismo ou pessimismo individual, o “jogo” já está a decorrer. Vamos ver quem ganha.