sexta-feira, março 20, 2015

Imaginem duas chávenas de café à vossa frente

O mundo está a mudar muito rapidamente. Tecnologias como a robótica, a inteligência artificial e a realidade virtual, associadas à aceleração exponencial da velocidade de computação, estão a transformar rapidamente e de forma disruptiva as economias e a forma como vivemos. O Instagram substituiu a Kodak, tal como o airbnb está a substituir a Hyatt ou a Uber está a inquietar milhares de operadores de táxis espalhados pelo mundo (e também em Portugal). O acesso à informação é cada vez mais imediato. Numa pequena incursão aos desenvolvimentos da realidade virtual, podemos citar os óculos da Google (apresentaram o conceito ao mundo, apesar de serem algo feios, pouco práticos e muito caros), a Oculus VR (comprada pelo Facebook) e a sua ligação à Samsung Gear VR, e o Google Cardboard como exemplos de tecnologias que estão e vão transformar a nossa própria perceção do mundo e as interações de que é composto. Também na vanguarda da nova exploração da realidade virtual estão a Fearless (para combater os nossos medos através de doses crescentes de realidade virtual…experimentem), o Lowe’s Holowroom (para experienciarmos mudanças lá em casa) e a Magic Leap, só para dar alguns exemplos. Para percebermos melhor o que já está a acontecer, imaginem que estão sentados a uma mesa e que têm duas chávenas de café à vossa frente. O desafio (sem tocar e sem cheirar, para já) é escolher qual a verdadeira. E imaginem que, olhando com toda a atenção, é impossível notar qualquer diferença. É esse o mundo em que iremos viver. E não será daqui a muito tempo. Adenda: daqui a um pouco mais de tempo poderemos sentir a chávena virtual (com umas luvas ou pequenos adesivos nas mãos), “cheirá-la” (através da representação de odores que acionam a nossa perceção de cheiro) e mesmo “bebê-la” (quando “levarmos” a “chávena” à boca teremos a exata perceção de que a estamos a beber, sabor incluído).

sexta-feira, fevereiro 20, 2015

Uma visão para a economia portuguesa*

Um conjunto de mudanças endógenas no funcionamento da economia e da sociedade portuguesas combina-se com forças externas globais para transformar as próximas décadas num período único em termos de dinâmica de crescimento, aumento da capacidade competitiva e reorganização setorial, institucional e social do nosso país. Portugal associa um processo de reindustrialização à liderança global no que toca à economia verde, destacando-se, por exemplo, nas áreas das energias limpas, mobilidade sustentável e novos materiais inteligentes, e afirmando-se como prestador de serviços intensivos em conhecimento. Portugal reforça igualmente o seu posicionamento internacional como país de turismo e acolhimento, não só através das suas vantagens comparativas "clássicas", mas também de uma renovada capacidade de organizar o seu território, apostar na reabilitação, no património e no planeamento urbano. Portugal responde aos problemas económicos com a capacidade coletiva de gerir e encontrar respostas, conseguindo, passo-a-passo, reequilibrar as situações. A combinação das melhorias ao nível do planeamento urbano com a dinâmica das indústrias culturais e criativas reforçam uma lógica de "acolhimento inovador", tal como as atividades associadas ao envelhecimento ativo, incluindo o desenvolvimento de nichos de mercado relacionados com a indústria da saúde/farmacêutica. *Adaptado de Alvarenga, A. (coord.), Carvalho, P., Lobo, A., Rogado, C., Azevedo, F., Déjean Guerra, M. e Rodrigues, S., “A Economia Portuguesa a Longo Prazo – um Processo de Cenarização”, DPP, Lisboa; 2011; Fortes, Patrícia, Alvarenga, A., Seixas, J., Rodrigues, S. (2015), “Long-term energy scenarios: Bridging the gap between socio-economic storylines and energy modeling”, Technological Forecasting and Social Change, Volume 91, February, Pages 161–178.

sexta-feira, janeiro 23, 2015

Há razões para otimismo (apesar de tudo)

O mundo enfrenta problemas difíceis e a informação negativa, perigosa, tem uma força que as boas notícias, muitas vezes, não têm. O ser humano está, aliás, “programado” para estar particularmente alerta ao perigo. Será por isso (e em resposta a isso) que terrorismo, fundamentalismo, guerra, pobreza, desemprego, escassez de água, fome, poluição, pandemias, crises energéticas, crises económicas, fenómenos climáticos extremos, perda de biodiversidade e acidentes graves entram diariamente pelas nossas casas e, sobretudo, pelos nossos pensamentos adentro, provocando diferentes sentimentos: medo, revolta, tristeza, impotência, apatia, indiferença (penso muitas vezes na pouca distância que vai da tolerância à indiferença…). O pessimismo parece ter algo de biológico, está “inscrito” em nós, na nossa já longa história evolutiva em que dar atenção ao perigo é o mais importante. O resto, neutro ou positivo, é secundário. Posto isto, junto uma pequena lista de tendências positivas, olhando para a larga escala (temporal e espacial), portadoras de esperança para o mundo (apesar de tudo): a esperança média de vida e a literacia têm vindo a aumentar, tal como o rendimento médio per capita. A mortalidade infantil tem vindo a diminuir muito significativamente. Milhões de pessoas passaram a ter acesso a água, saneamento, eletricidade, capacidade de refrigeração e aquecimento, equipamentos de comunicação e de transporte. A guerra, infelizmente, ainda marca a humanidade, mas, comparativamente, o período contemporâneo está longe de poder ser considerado um período particularmente sangrento da história. Para a humanidade, o caminho é longo e complexo. Mas há razões para otimismo (apesar de tudo).