O futuro é importante, quanto mais não seja porque é bastante provável que passemos grande parte da nossa vida lá.
A área do conhecimento e da acção da Prospectiva tem como foco fundamental essa preocupação com o futuro, não com a sua previsão, mas com a sua construção, utilizando para tal uma miríade de instrumentos metodológicos que passam pelos Cenários, a Análise de Tendências, a Análise do Jogo de Actores, etc..
Num trabalho recente do qual fui co-responsável[2] foram identificados como benefícios genéricos dos exercícios de Prospectiva uma mais fácil comunicação e coordenação entre stakeholders (exemplos de stakeholders: governo e outras entidades públicas, empresas, academia, ONG’s, sindicatos, mídia, escolas, cidadãos); a concentração no longo prazo; a construção de uma visão partilhada que facilite a focalização dos actores, gerindo incertezas, potenciando exercícios mais inclusivos e fortalecendo redes e interfaces (capital social); a contribuição para a definição de prioridades (num contexto de significativas restrições ao nível dos recursos e de crescente concorrência internacional); e a criação de compromissos (de participação e de implementação).
Construímos, no referido trabalho, seis “nebulosas” da Prospectiva (o termo justifica-se pela “fluidez” da classificação), autores e grupos de autores fundamentais para a compreensão da evolução da Prospectiva durante o século XX. A nossa princesa fará, neste e em próximos artigos, uma breve incursão por esses autores. Hoje apresenta a primeira dessas “nebulosas”, constituída por Daniel Bell e Herman Kahn.
A criação da “Comissão do Ano 2000” em 1965 pela “Academia Americana de Artes e Ciências” contribuiu decisivamente para a definição do campo de estudo da Prospectiva. Essa Comissão, liderada por Daniel Bell e que integrava muitos outros académicos de renome (Samuel Huntington, por exemplo), resultou numa publicação ainda de grande interesse na actualidade (reeditada em 1997[3]) que incluiu não só textos dos vários participantes como também extractos das discussões suscitadas no seio da Comissão. Entre outras ideias fortes, esta Comissão defendia a importância da análise das alterações estruturais na sociedade com impactos potenciais significativos a longo prazo. Adicionalmente, realçava a importância da decisão (tomada no presente) ter em conta “futuros alternativos”, especialmente no que concerne a assuntos críticos/chave.
Daniel Bell, o presidente da Comissão do ano 2000, impulsionou (e escreveu a respectiva introdução) uma das obras fundamentais de Herman Khan e da Prospectiva: “The Year 2000 – A Framework for Speculation on the Next Thirty‑Three Years” (1967)[4], obra editada pelo Hudson Institute (fundado por Kahn em 1961 depois de sair da Rand). Mas esse livro corporiza apenas uma parte das contribuições de Herman Khan para esta área do conhecimento, as quais abrangeram, entre outros, desenvolvimentos no Método dos Cenários, na aplicação da Análise de Sistemas à antecipação do futuro e na organização de investigação future-oriented de base interdisciplinar. Herman Kahn foi uma personalidade controversa (há quem diga que a personagem do Dr. Estranho Amor de Kubrick se baseou nele). Mais conhecido como Estratega Nuclear, foi também um Cientista Político e um Geo-estratega, tendo iniciado a sua carreira como Físico e Matemático na Rand Corporation. Sobre ele afirmaram, respectivamente, Donald Rumsfeld (i) e Raymond Aron (ii): (i) "Herman Kahn foi um gigante. Abordou assuntos de interesse público com criatividade e com a convicção, no caso dele correcta, de que reflexão e análise poderiam tornar o nosso mundo melhor”; (ii) “De facto, Herman Kahn, com todos os seus estudos científicos, as suas análise subtis, as suas experiências hipotéticas, continua a ser um reformador (...) que apela a uma revolução em conformidade com a revolução tecnológica.”
A área do conhecimento e da acção da Prospectiva tem como foco fundamental essa preocupação com o futuro, não com a sua previsão, mas com a sua construção, utilizando para tal uma miríade de instrumentos metodológicos que passam pelos Cenários, a Análise de Tendências, a Análise do Jogo de Actores, etc..
Num trabalho recente do qual fui co-responsável[2] foram identificados como benefícios genéricos dos exercícios de Prospectiva uma mais fácil comunicação e coordenação entre stakeholders (exemplos de stakeholders: governo e outras entidades públicas, empresas, academia, ONG’s, sindicatos, mídia, escolas, cidadãos); a concentração no longo prazo; a construção de uma visão partilhada que facilite a focalização dos actores, gerindo incertezas, potenciando exercícios mais inclusivos e fortalecendo redes e interfaces (capital social); a contribuição para a definição de prioridades (num contexto de significativas restrições ao nível dos recursos e de crescente concorrência internacional); e a criação de compromissos (de participação e de implementação).
Construímos, no referido trabalho, seis “nebulosas” da Prospectiva (o termo justifica-se pela “fluidez” da classificação), autores e grupos de autores fundamentais para a compreensão da evolução da Prospectiva durante o século XX. A nossa princesa fará, neste e em próximos artigos, uma breve incursão por esses autores. Hoje apresenta a primeira dessas “nebulosas”, constituída por Daniel Bell e Herman Kahn.
A criação da “Comissão do Ano 2000” em 1965 pela “Academia Americana de Artes e Ciências” contribuiu decisivamente para a definição do campo de estudo da Prospectiva. Essa Comissão, liderada por Daniel Bell e que integrava muitos outros académicos de renome (Samuel Huntington, por exemplo), resultou numa publicação ainda de grande interesse na actualidade (reeditada em 1997[3]) que incluiu não só textos dos vários participantes como também extractos das discussões suscitadas no seio da Comissão. Entre outras ideias fortes, esta Comissão defendia a importância da análise das alterações estruturais na sociedade com impactos potenciais significativos a longo prazo. Adicionalmente, realçava a importância da decisão (tomada no presente) ter em conta “futuros alternativos”, especialmente no que concerne a assuntos críticos/chave.
Daniel Bell, o presidente da Comissão do ano 2000, impulsionou (e escreveu a respectiva introdução) uma das obras fundamentais de Herman Khan e da Prospectiva: “The Year 2000 – A Framework for Speculation on the Next Thirty‑Three Years” (1967)[4], obra editada pelo Hudson Institute (fundado por Kahn em 1961 depois de sair da Rand). Mas esse livro corporiza apenas uma parte das contribuições de Herman Khan para esta área do conhecimento, as quais abrangeram, entre outros, desenvolvimentos no Método dos Cenários, na aplicação da Análise de Sistemas à antecipação do futuro e na organização de investigação future-oriented de base interdisciplinar. Herman Kahn foi uma personalidade controversa (há quem diga que a personagem do Dr. Estranho Amor de Kubrick se baseou nele). Mais conhecido como Estratega Nuclear, foi também um Cientista Político e um Geo-estratega, tendo iniciado a sua carreira como Físico e Matemático na Rand Corporation. Sobre ele afirmaram, respectivamente, Donald Rumsfeld (i) e Raymond Aron (ii): (i) "Herman Kahn foi um gigante. Abordou assuntos de interesse público com criatividade e com a convicção, no caso dele correcta, de que reflexão e análise poderiam tornar o nosso mundo melhor”; (ii) “De facto, Herman Kahn, com todos os seus estudos científicos, as suas análise subtis, as suas experiências hipotéticas, continua a ser um reformador (...) que apela a uma revolução em conformidade com a revolução tecnológica.”
[2] Alvarenga, António e Soeiro de Carvalho, Paulo: “A Escola Francesa de Prospectiva no Contexto dos Futures Studies – da “Comissão do Ano 2000” às Ferramentas de Michel Godet” (disponível em http://www.dpp.pt/gestao/ficheiros/futures_studies.pdf).
[3] Bell, Daniel e Graubard, Stephen R. (eds.): “Toward the Year 2000 – Work in Progress”, The MIT Press, 1997.
[4] Disponível para download em http://www.hudson.org/files/publications/kahn_yr2000.pdf.