sexta-feira, março 20, 2020
Redundância e Europa
Tenho seguido, como tanta gente, as previsões para a evolução da epidemia, quer a nível nacional quer a nível global. Previsões otimistas e previsões pessimistas. Pequenos e grandes esforços de aplicação de capacidade matemática previsional.
Cada pequena inflexão é uma esperança. Para as pessoas, para as famílias, a esperança é importante.
Mas, coletivamente, para o Estado e outras instituições, confiar na esperança pode revelar-se uma desgraça quando estamos a lidar com sistemas críticos (i.e. sistemas "que não podem falhar" pelas consequências devastadoras que essa falha comporta). É para o "pior caso", e sobretudo/apenas para esse, que esses sistemas se devem preparar. Para tal, precisam muitas vezes de redundância, de sobredimensionamento - e o sistema de saúde é, talvez, o maior sistema crítico das sociedades contemporâneas.
Redundância e sobredimensionamento são geríveis mais eficientemente à macro-escala. À escala nacional para os que podem. À escala macro-regional para os que percebem a força da integração. Daí ser tão ensurdecedor o silêncio distante da UE, independentemente dos milhões anunciados em cima da crise e das declarações de intenções.
Com o Brexit, a tragédia dos migrantes, a sua impotência internacional (tão evidente na Síria, no Irão e na Ucrânia, por exemplo) e, agora, com esta manifesta falta de protagonismo na resposta ao COVID-19 (talvez a maior ameaça que a Europa enfrentou desde o início do processo de integração), a nossa Princesa Europa parece estar tristemente perdida.
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