Ocupando grande parte da costa Oeste dos EUA, a Califórnia é um Estado nuclear no que toca à concentração de actividades baseadas no conhecimento, na inovação e na intensidade tecnológica. Conta com cidades, regiões e áreas metropolitanas entre as mais dinâmicas no que toca às indústrias e serviços de maior crescimento nas últimas duas décadas e uma grande percentagem de pessoas com a capacidade necessária para inovar e colocar no mercado novos produtos e serviços, criar emprego, sustentar os contínuos aumentos de produtividade e continuar a fazer da economia norte‑americana o “incubador gigante” de que fala Kaihla[2]. Neste artigo apresentam-se algumas características de três das principais sub‑regiões da Califórnia (Silicon Valley, São Diego e Los Angeles/Condado de Orange) e, no final, avança-se com alguns factores explicativos do sucesso californiano.
Silicon Valley é o pólo global mais brilhante no que toca à economia do conhecimento e à produção de tecnologia, sendo a maior concentração de empresas de alta tecnologia do mundo. Robert Metcalfe, um famoso empresário da área fundador da 3Com referiu: “Silicon Valley é o único sítio na Terra que não está a tentar encontrar uma forma de se tornar em Silicon Valley”. São José é a capital de Silicon Valley, sendo a área metropolitana dos EUA com maior percentagem de emprego quer em sectores ligados às Tecnologias de Informação (48,9%) quer em sectores de alta tecnologia (24,8%). São Francisco/Oakland, área do crescimento inicial dos EUA ligada à corrida ao ouro, é hoje líder mundial na alta tecnologia, capital de risco e biotecnologia e como a região mais atractiva dos EUA para trabalhadores qualificados em áreas da economia do conhecimento. São Francisco é a 1ª classificada do creativity index (grandes cidades) de Richard Florida com 34,8% de trabalhadores pertencentes à “classe criativa”. É um dos epicentros de talento dos EUA, com o seu pool de cientistas, engenheiros, artistas, criadores culturais, gestores e profissionais liberais.
Dotada de uma geografia única (entre o oceano, o deserto e as montanhas), São Diego é a 3ª classificada do creativity index (grandes cidades) de Richard Florida com 32,1% de trabalhadores pertencentes à “classe criativa”. Região urbana em claro crescimento, o condado de São Diego apresentou, entre 2000 e 2002, dos maiores ganhos em termos de empresas (mais 1100), emprego (30 000 novos empregos) e salários (aumento de 2 mil milhões de USD) de todos os EUA. Apesar de um quarto do emprego continuar a ser no sector da defesa, São Diego tem conseguido diversificar o seu tecido produtivo, tendo surgido clusters ligados às telecomunicações e às ciências médicas/biotecnologia. Este último tem-se assumido, nos últimos anos, como o principal motor de desenvolvimento.
Mais a Sul, a região de Los Angeles caracteriza-se por uma grande diversidade económica, não se concentrando tanto em empresas ligadas à Internet/dot‑com como o Silicon Valley nem na biotecnologia/defesa como São Diego. Esta diversidade dá maior estabilidade à Economia mas, por falta de um motor económico mais definido, limita a criação de riqueza e emprego em períodos de expansão de determinadas actividades. Coexiste, no entanto, com uma importância particular do entretenimento, aeroespacial, serviços às empresas e algumas actividades no sector dos bens não‑duradouros. O Condado de Orange (hoje mundialmente famoso através da série televisiva O.C.) passou de subúrbio e zona residencial de apoio a Los Angeles nos anos 70 e 80, ao 4º lugar entre as grandes áreas metropolitanas dos EUA em termos de percentagem de emprego quer no que toca a sectores ligados às Tecnologias de Informação quer no que toca a sectores de alta tecnologia. A força da indústria aeroespacial contribuiu em muito para o desenvolvimento de inúmeras empresas inovadoras em sectores como componentes para computadores, maquinaria industrial, equipamentos médicos e instrumentação científica.
Entre os factores que mais contribuíram para o sucesso da Califórnia nas actividades de alta tecnologia e criatividade podemos apontar (i) a qualidade das Universidades – aposta continuada dos governos estaduais no reforço de algumas grandes universidades, nomeadamente Stanford, Califórnia–Berkeley e Califórnia‑São Francisco. Por exemplo, a Universidade de Stanford participa no capital de centenas de startups – incluindo o Google, o maior motor de busca na internet do mundo – que utilizam tecnologias desenvolvidas na universidade; (ii) a disponibilidade de capitais graças à existência de capital de risco e da forte presença da banca de investimento; (iii) a atracção de investimentos públicos e de fornecedores de programas públicos na área da Defesa e Espaço – dos quais se destacam o centro espacial de Houston e os investimentos dos grandes contractors do Pentágono; (iv) a combinação única, em intensidade, de conhecimentos e competências em dois grandes percursos tecnológicos que marcaram os últimos vinte anos: Ciências da Vida e Ciências da Computação; (v) o ambiente cultural e estilos de vida favoráveis à inovação e à criatividade. São Francisco é um exemplo: sendo um dos principais centros criativos dos EUA, possui uma sólida mistura de indústrias de alta tecnologia com uma história rica, sendo muito forte a sua atractividade no que toca a trabalhadores qualificados em áreas da economia do conhecimento (por exemplo, o novo campus de São Francisco da Universidade da Califórnia dedicado à biomedicina deverá empregar 9000 investigadores); (vi) a posição geográfica que desde sempre facilitou uma abertura ao exterior e, em período mais recente, uma maior interacção com a Ásia, traduzida entre outros aspectos pela atracção de talentos da Índia e da China para as Universidades do Estado, muitos deles posteriormente envolvidos na criação de empresas inovadoras. (exemplo: em 2000 existiam em São José 3755 empresas detidas por indianos e chineses, correspondendo a um volume de negócios acima dos 23 mil milhões de dólares e a 88 000 empregos.[3]
[2] Paul Kaihla: Boom Towns, Business 2.0, Março 2004, pp. 94-102.
[3] Para uma análise aprofundada do caso da Califórnia e de outras regiões dos EUA ver Marques, I., Chorincas, J., Alvarenga, A. e Félix Ribeiro, J. M., “Prosperidade e Inovação nas Regiões dos EUA”, Informação Internacional - Análise Económica e Política, DSP-DPP (MAOTDR), Lisboa, 2006, pp. 9‑102.
Silicon Valley é o pólo global mais brilhante no que toca à economia do conhecimento e à produção de tecnologia, sendo a maior concentração de empresas de alta tecnologia do mundo. Robert Metcalfe, um famoso empresário da área fundador da 3Com referiu: “Silicon Valley é o único sítio na Terra que não está a tentar encontrar uma forma de se tornar em Silicon Valley”. São José é a capital de Silicon Valley, sendo a área metropolitana dos EUA com maior percentagem de emprego quer em sectores ligados às Tecnologias de Informação (48,9%) quer em sectores de alta tecnologia (24,8%). São Francisco/Oakland, área do crescimento inicial dos EUA ligada à corrida ao ouro, é hoje líder mundial na alta tecnologia, capital de risco e biotecnologia e como a região mais atractiva dos EUA para trabalhadores qualificados em áreas da economia do conhecimento. São Francisco é a 1ª classificada do creativity index (grandes cidades) de Richard Florida com 34,8% de trabalhadores pertencentes à “classe criativa”. É um dos epicentros de talento dos EUA, com o seu pool de cientistas, engenheiros, artistas, criadores culturais, gestores e profissionais liberais.
Dotada de uma geografia única (entre o oceano, o deserto e as montanhas), São Diego é a 3ª classificada do creativity index (grandes cidades) de Richard Florida com 32,1% de trabalhadores pertencentes à “classe criativa”. Região urbana em claro crescimento, o condado de São Diego apresentou, entre 2000 e 2002, dos maiores ganhos em termos de empresas (mais 1100), emprego (30 000 novos empregos) e salários (aumento de 2 mil milhões de USD) de todos os EUA. Apesar de um quarto do emprego continuar a ser no sector da defesa, São Diego tem conseguido diversificar o seu tecido produtivo, tendo surgido clusters ligados às telecomunicações e às ciências médicas/biotecnologia. Este último tem-se assumido, nos últimos anos, como o principal motor de desenvolvimento.
Mais a Sul, a região de Los Angeles caracteriza-se por uma grande diversidade económica, não se concentrando tanto em empresas ligadas à Internet/dot‑com como o Silicon Valley nem na biotecnologia/defesa como São Diego. Esta diversidade dá maior estabilidade à Economia mas, por falta de um motor económico mais definido, limita a criação de riqueza e emprego em períodos de expansão de determinadas actividades. Coexiste, no entanto, com uma importância particular do entretenimento, aeroespacial, serviços às empresas e algumas actividades no sector dos bens não‑duradouros. O Condado de Orange (hoje mundialmente famoso através da série televisiva O.C.) passou de subúrbio e zona residencial de apoio a Los Angeles nos anos 70 e 80, ao 4º lugar entre as grandes áreas metropolitanas dos EUA em termos de percentagem de emprego quer no que toca a sectores ligados às Tecnologias de Informação quer no que toca a sectores de alta tecnologia. A força da indústria aeroespacial contribuiu em muito para o desenvolvimento de inúmeras empresas inovadoras em sectores como componentes para computadores, maquinaria industrial, equipamentos médicos e instrumentação científica.
Entre os factores que mais contribuíram para o sucesso da Califórnia nas actividades de alta tecnologia e criatividade podemos apontar (i) a qualidade das Universidades – aposta continuada dos governos estaduais no reforço de algumas grandes universidades, nomeadamente Stanford, Califórnia–Berkeley e Califórnia‑São Francisco. Por exemplo, a Universidade de Stanford participa no capital de centenas de startups – incluindo o Google, o maior motor de busca na internet do mundo – que utilizam tecnologias desenvolvidas na universidade; (ii) a disponibilidade de capitais graças à existência de capital de risco e da forte presença da banca de investimento; (iii) a atracção de investimentos públicos e de fornecedores de programas públicos na área da Defesa e Espaço – dos quais se destacam o centro espacial de Houston e os investimentos dos grandes contractors do Pentágono; (iv) a combinação única, em intensidade, de conhecimentos e competências em dois grandes percursos tecnológicos que marcaram os últimos vinte anos: Ciências da Vida e Ciências da Computação; (v) o ambiente cultural e estilos de vida favoráveis à inovação e à criatividade. São Francisco é um exemplo: sendo um dos principais centros criativos dos EUA, possui uma sólida mistura de indústrias de alta tecnologia com uma história rica, sendo muito forte a sua atractividade no que toca a trabalhadores qualificados em áreas da economia do conhecimento (por exemplo, o novo campus de São Francisco da Universidade da Califórnia dedicado à biomedicina deverá empregar 9000 investigadores); (vi) a posição geográfica que desde sempre facilitou uma abertura ao exterior e, em período mais recente, uma maior interacção com a Ásia, traduzida entre outros aspectos pela atracção de talentos da Índia e da China para as Universidades do Estado, muitos deles posteriormente envolvidos na criação de empresas inovadoras. (exemplo: em 2000 existiam em São José 3755 empresas detidas por indianos e chineses, correspondendo a um volume de negócios acima dos 23 mil milhões de dólares e a 88 000 empregos.[3]
[2] Paul Kaihla: Boom Towns, Business 2.0, Março 2004, pp. 94-102.
[3] Para uma análise aprofundada do caso da Califórnia e de outras regiões dos EUA ver Marques, I., Chorincas, J., Alvarenga, A. e Félix Ribeiro, J. M., “Prosperidade e Inovação nas Regiões dos EUA”, Informação Internacional - Análise Económica e Política, DSP-DPP (MAOTDR), Lisboa, 2006, pp. 9‑102.
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