sexta-feira, setembro 07, 2007

Tempo curto – uma reflexão

Vivemos num ponto infinitamente pequeno da história do ser humano na Terra; a história do ser humano na Terra é um ponto infinitamente pequeno da história da própria Terra; e a história desta última é um ponto infinitamente pequeno da história do Universo.
A nossa existência é infinitamente pequena mas isso todos sabemos, eventualmente sem pensarmos muito nisso. Essa pequenez parece-me ser, no entanto, mais do que uma óbvia limitação orgânica, um poderoso incentivo à procura de liberdade, acabando por ser indissociável dela, pois sem essa procura essencial ela não existiria. Neste sentido, a nossa existência curta é a outra face da nossa liberdade individual. A liberdade de viver um momento curto que é a nossa vida e de o tornar significativo (para cada um de nós); a liberdade para fazer opções, para querer e para não querer, para questionar as ideias feitas e para perguntar “porquê?”.
Se vivêssemos para sempre não necessitávamos tanto, tão urgentemente de ser livres. De experimentar, de testar, de escolher. Ao ser infinita a vida perderia o seu valor infinito. Ou seja, se vivêssemos para sempre não necessitávamos tanto de viver.
É precisamente pelo nosso tempo ser tão curto que a liberdade é tão importante. A democracia e os direitos humanos, por exemplo, são sinais dessa luta humana essencial. Ideias e práticas que relativizaram (e relativizam) o presente (e os seus valores; por exemplo a liberdade individual) e que marcaram profundamente o século XX (e alguns dos seus maiores conflitos), prometendo um “futuro radioso”, um “Homem diferente”, renascido, usaram esse instrumento tão poderoso que é o futuro não como veículo de liberdade e de possibilidade no presente mas como forma de escravizar esse mesmo presente, de limitar o ser humano nas suas opções, na sua curiosidade, na sua ironia e, claro, na sua liberdade.
Tenho a noção que a liberdade exige consciência e capacidade. Consciência da possibilidade de o ser e capacidade (real) para o ser. Assumo, neste texto, que somos conscientes e capazes. Nesse sentido, a função central do Estado seria lutar sempre pela possibilidade (material, por exemplo) da liberdade e contribuir para a consciência individual da mesma por parte dos cidadãos.

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