sexta-feira, outubro 03, 2014

Persistência e mutabilidade

No quarto e quinto séculos a.C. os debates filosóficos aumentaram de intensidade, aprofundando-se a reflexão metafísica e a procura da autoconsciência. Heráclito, Parménides, Sócrates, Platão e Aristóteles estão entre aqueles que protagonizaram algumas das primeiras discussões entre estruturas filosóficas antagónicas, encetando diálogos que, em alguns aspectos, podem ser transportados até à era atual. O pensamento de Heráclito e Parménides, por exemplo, permite-nos imaginar um diálogo bastante vivo. Heráclito (aprox. 535 a.C. - 475 a.C.) via o mundo como um conjunto de sistemas de fluxos, mutáveis e emergentes. A incerteza e as diferentes possibilidades faziam parte da sua visão do mundo. Por outro lado, Parménides (530 a.C. — 460 a.C.) defendeu o caráter permanente, imutável, da realidade, muito inspirado pelo alfabeto que favoreceu o domínio da percepção visual, valorizando o universal, o abstrato e o estático, em detrimento do fluido e o particular. Heráclito preocupou-se sobretudo com o processo, orientado pela indeterminação, fluxo, interpenetração, em mudança incessante. Em contraste, quadros teóricos positivistas como os de Karl Marx e Adam Smith (e Parménides) acreditavam na presença de forças persistentes (e invisíveis) subjacentes e definidoras do mundo real. Parménides e a permanência, as causas profundas que marcaram o passado e marcarão o futuro. Heráclito e a incerteza emergente, a impossibilidade da previsão, a certeza de que, por muita análise que se faça, seremos sempre surpreendidos.

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