sexta-feira, setembro 06, 2002

Três “famílias”, lá longe, em “Bruxelas”


Numa altura em que, na Europa, se discute (em Portugal tenta-se, a espaços) o futuro do “nosso” sui generis processo de integração, pareceu-me oportuno aproveitar este espaço para uma breve apresentação (estilo “ficha biográfica”) das três principais (em número de deputados no Parlamento Europeu (PE)) “famílias” políticas europeias.
O Partido Popular Europeu (PPE), grupo político com maior representação no PE (233 deputados provenientes de 31 partidos nacionais) tem como “núcleo duro” os Partidos Democrata‑Cristãos europeus que, desde o pós-guerra, têm sido convictos defensores da integração europeia e, mais recentemente, se têm aproximado da defesa de uma evolução federal para a União Europeia (UE). Nos últimos anos, têm procurado estabelecer relações mais próximas com outros partidos conservadores, os quais, no entanto, não partilham com eles uma visão federalista para a Europa (vejam-se os casos dos conservadores britânicos, dos italianos da Forza Italia e dos gaullistas franceses). No seio dos democrata-cristãos europeus salientam-se os dois partidos alemães – a União Democrata-Cristã (CDU) e a União Social-Cristã (CSU) – o que se consubstancia numa nítida proximidade entre as propostas do PPE e aquelas que estes partidos centrais estão disponíveis para defender.
O Partido dos Socialistas Europeus (PSE), constituído por 179 deputados e liderado, no PE, por um espanhol (Enrique Baron Crespo), tem tradicionalmente uma visão defensora de uma maior integração europeia, sendo de realçar o seu peso na Comissão Europeia (10 dos 20 Comissários Europeus provêm desta área política). Em claro processo de afastamento do poder em vários países europeus no rescaldo da “terceira via” personificada por Tony Blair (Portugal, França e Holanda são três exemplos; Suécia e, principalmente, Alemanha podem ser mais dois já em Outubro), este grupo integra um conjunto de vários partidos muito significativos (quer no seio do PSE quer na UE como um todo) de cuja interacção (por vezes impregnada de algumas diferenças de base – assentes, por exemplo, em concepções fundamentalmente nacionais da integração europeia) resulta o posicionamento do PSE face às diversas questões em agenda. De entre este partidos destacam-se o SPD (Partido Social Democrata da Alemanha), os Trabalhistas britânicos, o PSOE (Partido Socialista Obrero Espanol) e o PS francês.
O Partido Europeu dos Liberais Democratas e Reformistas (ELDR) do PE, grupo bem mais “leve” que os dois anteriores (53 deputados), apresenta-se como a terceira força política no PE. Caracterizando-se por uma atitude globalmente construtiva relativamente ao processo de integração não deixará de reflectir eventuais inversões mais eurocépticas eventualmente determinadas por problemas específicos nos EM’s onde detêm um maior peso e responsabilidade (nomeadamente na Holanda, na Bélgica e na Dinamarca onde fazem parte do governo). De realçar também a importância dos liberais britânicos não só neste grupo (constituindo o “contingente” mais numeroso) mas sobretudo no próprio sistema político inglês (tradicionalmente marcado por uma fortíssima bipolarização) e a clara concentração das proveniências dos membros do ELDR nos países “ricos” do Norte da UE.
De referir que, infelizmente (apesar da retórica da importância de um debate público alargado sobre o futuro do processo de integração europeia), não só ainda está por especificar o papel que os partidos políticos europeus poderão desempenhar no desenvolvimento de um verdadeiro e consistente “espaço público europeu”, como ainda estão por resolver questões tão centrais (para a promoção do referido “espaço”) como o estatuto e o financiamento dos referidos partidos.

Sem comentários: